Publicação / Produção Audiovisual

IYÁ ITAN - DOCUMENTÁRIO ESPECIAL PARA O JULHO DAS PRETAS 2023

IYÁ ITAN - DOCUMENTÁRIO ESPECIAL PARA O JULHO DAS PRETAS 2023

Iyagunã Dalzira é Ialorixá, sacerdotisa do terreiro Ile Aseo Juboogun. Iniciou os estudos regulares aos 47 anos, no programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Aos 63, iniciou o curso de relações internacionais. Aos 72, defendeu seu mestrado na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, com uma dissertação sobre os saberes do Candomblé na contemporaneidade. Aos 81, defendeu a tese de doutorado "Professoras negras: gênero, raça, religiões de matriz africana e neopentecostais na educação pública”, na Universidade Federal do Paraná. 
A infância da Iyá foi feliz, calma e doce em um sítio com brincadeiras inocentes e até muito valentes disputando com cobras os frutos de gravatá e veludo. Ainda sem a presença do racismo, ela tinha sonhos curiosos: uma boneca que falasse, uma sombrinha e um brinco de ouro. Realizou os sonhos de ter o brinco e a sombrinha, mas nunca teve uma boneca que falasse, porém, segundo ela mesma conta, os filhos que a vida lhe deu - adotou sete crianças, duas meninas e cinco meninos - "falaram e choraram bastante". Não à toa seu nome, Iyagunã, tem o significado de Grande Mãe.
A mineira chegou nas terras paranaenses na década de 50, seu pai era músico, mas em busca de ter o tão sonhado pedaço de terra, levou a família rumo ao "ouro preto" plantando café. O sonho de prosperar não deu certo, cuidar da terra e sobreviver em meio a grandes plantações acabou levando a família para Umuarama e depois para Curitiba.
Ao sair do campo e ter contatos com mais pessoas começou a ter que lidar com o racismo, um episódio a marcou profundamente, Iyagunã Dalzira queria ser freira, porém ao chegar no convento a religiosa responsável não deixa, o motivo: "Você é bem escurinha, né?". 
Se a gente nasce ativista? "Eu creio que não. A necessidade que vai fazendo com que a gente tenha que fortalecer, tenha que fazer alguma coisa, tenha que buscar, tenha que sobreviver. Viver plenamente, acredito que a gente não viva, porque tem que brigar com todos esses vieses que são terríveis", diz ela relatando a sua trajetória na luta antirracista.
Em 1979 ela começa a militância sem a real noção do que era a ditadura, é neste momento da vida que também começa a ter ciência do que era o racismo religioso depois ver corpos sem identificação sendo jogados perto dos terreiros. Foi tardio, mas o seu encontro com o Candomblé só veio próximo aos 40 anos de idade por curiosidade e necessidade. Em sua construção sobre a conjuntura negra estavam personalidades como a política Benedita da Silva e o sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho.
Referência na fala, na presença e principalmente na sua existência, Iyagunã Dalzira, reflete sobre as mulheres negras e seu papel na democracia: "Eu creio que a mulher negra está a serviço da democracia. A gente está buscando ainda uma democracia, mas não é uma democracia plena, ela está sendo construída e quase que a gente a perde, foi por muito pouco. A democracia, a gente vai estar sempre construindo, reconstruindo, segurando, não é? Mas é a mulher negra que está a serviço da democracia, dessa mudança, de fazer esse barco andar".

Assista odocumentário completo aqui.